terça-feira, 23 de outubro de 2012

Eduardo Galeano

Jamais me confessei. Eu não queria que vocês, os senhores padres, gozassem mais que eu com meus pecados, e por avareza os guardei para mim. Gula? Desde a primeira vez que a vi, confesso que o canibalismo não me pareceu tão mau assim. É luxúria isso de entrar em alguém e perder-se lá dentro e nunca mais sair? Aquela mulher era a única coisa no mundo que não me dava preguiça. Eu sentia inveja. Inveja de mim. Confesso. E confesso que depois cometi a soberba de acreditar que ela era eu. E quis romper esse espelho, louco de ira, quando não me vi.