Imagine o homem de *Cro-Magnon hospedado na Torre de Babel! No mínimo, sofreria uma sensação de desterro. Mas não, este não sente o exílio, segue seu caminho, nada o atrapalha. Uma das raras frases que ouvi de sua boca proclamava que era "pegar ou largar". Pegar ou largar o quê? Sem dúvida, ele próprio, nosso amigo. Vou fazer-lhe uma confidência: sinto-me atraído por essas criaturas graníticas. Quando pensamos muito sobre o homem, por trabalho ou vocação, às vezes sentimos nostalgia dos primatas. Estes não tinham segundas intenções.
Nosso anfitrião, na realidade, tem algumas idéias, embora as alimente de modo obscuro. Por não compreender o que se diz em sua presença, assumiu um caráter desconfiado. Daí esse ar de sombria gravidade, como se suspeitasse, no mínimo, que há algo de errado entre os homens. Esse estado de espírito torna mais difíceis as discussões que não dizem respeito a seu trabalho. Veja, por exemplo, acima de sua cabeça, na parede do fundo, aquele retângulo vazio que marca o lugar de um quadro retirado. Com efeito, lá havia um quadro particularmente interessante, uma verdadeira obra-prima. Pois bem, eu estava presente quando o mestre-de-cerimônias o recebeu e quando ele o cedeu. Nas duas ocasiões, teve a mesma desconfiança, depois de passar algumas semanas refletindo. Quanto a isso, é preciso reconhecer - a sociedade arranhou-lhe um pouco a franca simplicidade de temperamento.
*Cro-Magnon é o nome que se dá aos restos mais antigos conhecidos na Europa de Homo sapiens, a espécie à qual pertencem todos os humanos modernos.